Um grito em silencio...
- Greice Reis
- Jul 9, 2016
- 9 min read








Demorei um tanto para escrever este relato de parto, e isso de me demorar já significa muito, já me diz algo, já me mostra o quanto sou outra, o quanto gestar e parir te transforma em outro algo que muitas vezes tu precisa entender quem esta morando dentro do corpo, que alma e esta que tomou conta da outra e se transformou nesta?!
Durante minha gestação o tempo passou corrido, disperso… Os afazeres com meus filhos, viagem, preocupações me faziam correr contra o tempo e eu apesar de saber estar acompanhada pela lua, para sentir ela aqui dentro eu durante a noite quando finalmente deitava, esperava minha mente se aquietar e as dores e tensões do meu corpo irem dando trégua e espaço para aquela sensação de corpo dormente e quieto, e curiosamente neste estado de sentir meu corpo e ouvir meu silencio que ela vagarosamente se mostrava, ia mexendo, surgindo como uma forca estranha, como uma nota, sei la, eu sentia uma energia azul dentro de mim… Eu ficava em silencio ali, tinha medo ate de conversar e não conseguir mais sentir, pois a bagunça, os gritos de criança diários eram tantos que naqueles momento eu só queria sentir, e esperava que ela sentisse também. E foi assim que se deu a maior parte da nossa comunicação intra uterina durante minha gestação… Durante muito tempo me culpei por achar que não estava curtindo aquilo tudo e por não conversar com ela como fiz inúmeras vezes dos outros. Mas hoje sei que estávamos nos conectando de uma outra forma. Ana Lua conheceu meu silencio, e nele mora também o amor mais puro verdadeiro e ardente que eu posso oferecer!
Lua estava ali! E como as fases da Lua, eu vivi nesta gestação momentos de fases, fases que me mudaram para sempre e tudo isso foi muito intenso, durante o dia eu nem parava para perceber, mas a noite eu chorava, e o resto, silencio…
Depois de uma destas noites de silencio gritado, eu despertei e me dei por conta de um nascimento que estava batendo a minha porta… Eu fiquei nervosa porque sabia exatamente como eu não queria trazer ela a este planeta!
Me dei conta de que precisava de ajuda, precisava de mulheres, muitas delas! Procurei pelo facebook mesmo algumas delas, mulheres incríveis que rapidamente contataram seus circulo, que estas por sua vez procuraram seu circulo e no outro dia pela manha eu tinha um nome e um numero.
E no primeiro contato por telefone já tive a forca e a certeza de que aquela mulher estaria comigo e minha família, que minha filha nasceria em casa, entre os irmãos e com todo cuidado e carinho que poderíamos dar a ela!
Ainda hoje fico impressionada com o poder que mulheres juntas tem, mulheres do outro lado do mundo conseguiram me estender a mao e me incluir em seus círculos <3
No primeiro encontro com a parteira e a Doula eu estava muito ansiosa. Eu esperei por elas em frente a casa, quando eu as vi a paz habitou dentro de mim! Nos abracamos e um sentimento de irmandade tomou conta de nos, eu nem consegui me comunicar direito com elas. Verbalmente não, nem precisou!
Karem, Page e Samantha foram almas bondosas, seres do bem que entraram em minha casa e participaram de um momento lindo e precioso da minha vida! Sou Grata por isso…
Quando chegou o dia, eu estava calma e certa que seria aquele dia, eu já sentia contrações fracas e espaçadas desde as 6h am, levantei tomei banho, tomei muita água e fui para o sofá para sentir aquelas pequenas contrações, eu precisava sentir, meu corpo, meu instinto e meu ser queria sentir.
E olha que incrível, eu já sabia exatamente como fazer este exercício de sentir e ficar em paz, pois foi exatamente o que instintivamente eu vinha praticando todas as noites na iniciativa de me conectar com ela!
E foi o que fiquei fazendo, me conectando com ela a cada contração!
Eu sabia que seria aquele dia, mas sabia que seria mais tarde e então falei para meu esposo ir trabalhar normalmente… E comecei a preparar as coisas na casa, queria que minha filha nasce com a casa limpa e organizada…
Limpei o que pude e no meu tempo e fazendo pausas deitada ou sentada para continuar a me conectar conforme eu sentia contração, quando ela me chamava…
As 16h quando meu esposo retornou eu estava deitada controlando o tempo com uma caneta uma folha de papel e ouvindo nando Reis (que voz que alivia dor de parto vou te contar hein?! )
Minhas contrações já estavam bem fortes e o tempo mais ritimado e próximo… Ligamos para Parteira que nos deu algumas instruções quanto ao tempo, quando ela ficar por uma hora com contrações de 5 e 5 min me avisem, ou quando ela sentir que devo ir! Eu sabia que ainda não, e realmente queria estar só com meu esposo e família naquele momento.
Ismael de quando em quando me perguntava se seria aquele dia; vai ser hoje? Tu sente que vai ser?! Eu disse que sim e que era para ele ir organizando tudo o que combinamos, ligar para minha irma Aline que nos ajudaria com registro e com as crianças!
Eu fui para um banho quente, e testifico que uma chuveirada quente nas cadeiras e milagrosa, alivio! Eu sentia dores, mas tranquilas, suportáveis e estava super calma, isso as 20:00 fiquei em torno de uma hora no chuveiro cantando e dançando e ali arrisquei falar com ela, ou ela me fazia falar por nos duas eu imagino… Eu cantava e sentia, sentia e me movimentava conforme meu corpo pedia. Percebi que neste momento ouvir o corpo e tudo o que precisava fazer.
As 21:00 mais ou menos minha irma chegou e eu estava no chuveiro ainda… Kal meu filho mais velho nervoso e ansioso, embora preparado com longas conversas para este momento ficou sem saber o que fazer, me tratou com todo amor e sentia no dever de me alimentar, então passou a me trazer frutas no chuveiro, a bandeja de morangos estava deliciosa rsrs
Ismael e as crianças já tinham montado tudo, A Flor corria na volta da piscina, kal foi para o psp jogar mordendo os lábios!
Page chegou, me viu tranquila (e eu realmente estava) e me perguntou se eu sentia que precisava delas ali. eu respondi que sim e ela ligou para Karen(parteira) eu sentia que estava próximo de acontecer pois já estava bem junto as contrações mas a dor não era forte, eu respirava e pedia silencio, o que mais fiz foi a cada contração pedir silencio, eu precisava sentir e o único que queria ouvir eram as musicas que colocamos a tocar na tv, tudo escurinho me ajudou ainda mais e me concentrar em sentir! 11:30 As três já estavam aqui em casa, sentadas no chão formando uma meia lua e eu prestes a entrar para piscina ainda pude ver e ouvir a voz de uma amiga linda, linda de viver que esta longe mas tao perto (Lu), pq a florzinha ligou para ela bem nesta hora pelo face e nos vimos por vídeo, vi ela chorando!Depois fui para piscina. Dentro da piscina fiquei sentindo aquela água quente aliviar as dores que ainda não estavam muito fortes… fiquei ali jogando mais água em cima da barriga, flutuando, o silencio sempre presente ali, descobri que quando o que se esta vivendo significa tanto, o silencio daquele momento preenche tudo… Eu estava ali por inteira, acordada, sentia minha respiração, percebi expressões de forca de mulher vinda daquelas três mulheres me olhando atentas e em silencio, morei por uns instantes no brilho de curiosidade dos olhinhos da flor, que de em quando em quando apertava minha mão, queria colocar água quente nas minhas costas… Passamos tanto tempo vivendo em outro tempo, mas ali não, ali eu estava no tempo certo, no tempo silencio, no tempo escuro, e sinceramente estar de olhos fechados e de olhos abertos era o mesmo, porque tudo, as pessoas, os objetos podiam ser sentidos, senti que de tudo vinha uma forca, onde eu e lua eramos o centro! Parece loucura, mas foi isso que senti!
Por um momento chorei, não era de dor, este parto não foi muito doloroso, hoje neste período de puerpério sei que chorei minha morte, estava morrendo assim como Minha grande amiga Doula Laura falou quando eu confidenciei a ela que eu tinha medo de morrer no parto, Doula Camila de Porto Alegre e Laura em momentos diferentes me falaram que sim eu ia morrer! E eu senti a minha morte e estava velando minha alma… Ainda pedindo silencio eu abri os olhos e me senti tonta, falta de ar, precisava levantar… Sai da banheira
E neste momento abracada com meu esposo, que não parecia de carne para mim, eu sentia ele como uma montanha rochosa com muita sombra onde eu podia me escorar quando precisava, rocha da onde eu sugava forcas, e precisava de silencio e forca. Tenho certeza que neste momento que sai da banheira começou a período latente pois ali eu reconheci a dor, acredito que isso foi em torno das 00:40 por ai dor intensa, respirava e pedia silencio, respirava e ouvia o silencio! Aquela falta de ar parecia na cabeça e estava começando a me tirar do eixo, nem vi por onde uma delas colocou uma toalha gelada na testa e imediatamente passou, alivio, curti aquele alivio de uma forma tao boa, foi como que me sentir ainda maior… Deitei quietinha no sofá e sempre ouvindo o silencio e respirando… Dores mais fortes ainda, dor, silencio, respiração e assim eu me conectava com algo… No tempo que fiquei ali deitada ela era todo movimento, ela era uma energia pura, agora era vermelha não mais azul, uma energia ardente, potente… Minha parteira me observava de longe, e então as dores se intensificaram de uma forma gigante e aquela anergia central se espalhou pelo corpo, minha irma e meu esposo estavam do meu lado segurando minha mão em silencio, Karen se aproximou bem na hora ardente e me perguntou com voz bem leve se eu queria uma massagem nos pés e eu fiz que sim com a cabeça, eu entendi karen mesmo sem dominar a língua… Ela me entendeu porque e mulher de parto, e mulher sabia e entende a linguagem do corpo e foi justamente nos pés que pareciam estar estourando com aquela tensão que ela massageou e falou que as contrações estavam bem forte e que ela podia sentir pelos meus pés, terminou a massagem e eu quis ir para banheira… Entrei já segura que em minutos ela estaria aqui, ela já estava…
Me escorei com as costas na borda da piscina, senti meu corpo me impulsionar para frente e cedi, fique me apoiando nos joelhos e bracos, page me perguntou se eu queria ajuda eu disse sim ela fez pressão nos minhas cadeiras durante algumas contrações e isso foi um alivio sem fim… Voltei a borda da piscina e procurei minha rocha (meu esposo) e ali sentindo o silencio eu esperava ansiosa por cada contração e assim que ela surgia eu apertava o corpo dele em uma abraco de urso colocando toda a tensão que queria vir em cima dele, fiz isto por algum tempo ate sentir que estava vindo e seria o expulsivo me virei de costas para borda, senti a bolsa estourar e quebrei o silencio avisando isso e agora o som da musica, eu, meus filhos que seguravam minhas mãos junto com meu esposo, a água A lua, o escuro, o silencio todos eramos um, eu era todos, como uma arvore centenária com todas as raízes prestes a tombar e carregar todos juntos com ela nesta queda… Coloco minhas mãos e sinto a cabecinha dela, para a contração, para tudo o tempo para, eu envolvida neste tempo estático agora sentia ela ao som de Anunciacao Helem oleria e só consegui rir e quebrar o silencio com um ; vem filha (sussurrado)... Ninguem me disse continua, ninguém me disse faz forca, eu esperei nossos corpos e eles juntos sabiam o que fazer! Mais duas contrações e ela já estava nos bracos do Pai e logo nos Meus… e agora já não era só o silencio, era o silencio, e a alegria que preenchiam a sala…
Naquela noite entendi o ser único, alguns se encontram no grito que ecoa e transcende quebrando todos véus… eu precisei de silencio, silencio que ensaiamos nas 38 semanas, silencio para me exercer, para me ouvir, para sentir e deixar nascer lua e eu...
Notas
Lua diferente dos manos nasceu a noite!
Minha fase latente durou em media 1h e meia e o expulsivo 7 min contados pela parteira
Nao houve corte, não lacerei, amamentei minha filha nos primeiros 5 min de vida, e assim permanecemos por horas a fio, agora a conexão era outra, ela ainda ligada a placenta ate o cordão parar de pulsar... O primeiro banho da lua foi dado 24h depois do seu nascimento.
Lua teve amarelão por incompatibilidade sanguínea por grupo abo e 48h pós nascimento (o que já prevíamos, por conta dos primeiros filhos) fomos para hospital para tratamento. Tivemos e exigimos todo o cuidado e humanidade que ela precisava, depois da experiencia do parto entendemos mais do que e ser tratado com amor e humanidade.
E que respeito ao ser que nasce, a criança e adulto que se transforma e uma das maiores formas de mostrar nosso amor!
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